terça-feira, 24 de maio de 2011

A Pessoa de Dostoiévski

"Noites Brancas" fez-me lembrar de Soares, logo no começo já percebi tal semelhança de desassossego, aquele rapaz solitário, sonhador, tendo da vida apenas o que sua mente fomenta. Fez-me pensar novamente que passamos todos os dias pelas mesmas pessoas que conhecemos com os olhos, mas que teimamos inutilmente, diria até absurdamente, nem saber os nomes.

Podiam dar oportunidades para as pedras serem humanas e nos trocar com elas, talvez elas queiram se conhecer mais do que nós.

SORVETE

Tinha uma criança chupando sorvete na rua, um sorvete tão formoso que a rua não via a hora dele cair.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

BONITO

Estava olhando pela janela do ônibus a paisagem passando pelo meu reflexo.
Fico mais bonito assim.

NÃO DÁ

De não em não
a galinha
enche o saco

terça-feira, 17 de maio de 2011

PODE SER DIFERENTE?

Pode ser diferente?

Em frente
rente
ente
de si.

Ciente.

ESTÁ DENTRO

Prece que as pessoas estão se fechando.
As janelas de ontem, hoje com cortinas escuras, me entristecem.
Sinto como se não valesse mais o alheio nem eu.
Creio que, pela forma com que as coisas me são postas, devo ausentar-me de certas situações, devo compactar-me, entender esta minha passagem, esta fase.
Pontuarei as minhas regras, pautarei meus caminhos, a partir de agora sou mais eu do que sempre fui e vou.

Agradeço

quarta-feira, 11 de maio de 2011

SONHO ANCESTRAL

Não estou no livro
pousado numa árida estante
de pó sobre o metal,
nem na fala rígida
do senhor da venda
que vende a alma
dos infelizes.
Sou das copas verdejantes,
dos prados preenchidos.
Sou do céu, arcoíris.
Da terra, semente.
Nada do que sou esvazia,
nem minha carne posta em matéria,
nem minha essência infinita.
Por assim viver
estou dentro de tudo
e tudo dentro de mim.
Estou na epopéia e no grafema,
durmo num apólogo
e acordo poema.

AO POETA CERVAN

Truque que corre
Recorro ao divã
Não deixe nunca a poesia
Ser vã

quinta-feira, 5 de maio de 2011

DESEJO DE RIO

Quero encontrar um rio para ter com ele um filho.
Um filho cachoeira, seixo colorido,
que corra livremente pelos vales à descida
e precipite o sal.
Quero encontrar o rio certo, transparente,
cheio de peixes e seres de rio,
plantas aquáticas e aquela areia de pedrinhas
que adorna o fundo alaranjado.
Quero encontrar este rio, o rio dos meus sonhos,
nele mergulhar ancioso e nadar paciente
e ir-me junto, como água corrente
até que a morte nos separe.

terça-feira, 3 de maio de 2011

FOI

A lamúria ecoa
nos meus sapatos novos
que pisam acelerados
pelas pedras dispostas
do ofício
e se vão
ficam para trás
como a sombra
de algo
que fui

Cultura

Infinito grito
quebra o silêncio
com poucas palavras
Como um violoncelo
o Madrigal soa
na forma do tempo
que a arte costura
Como uma dança
de espectros
nasce tal criatura

Sentinela

Sinto nela
Sim, to nela

Sentinela sou.

Vida breve

Breve idade
Brevidade
Da vida
levo só a idade.

A CHUVA CAI E O POEMA MOLHADO NO CHÃO AINDA RESPIRA

A chuva cai e o poema molhado no chão ainda respira.
Uma parte grudada ao solo e outra almeja a brisa que a porte.
O poema tinha palavras de amor
E o amor borrado do outro lado da folha aparece.
A chuva cai e o poeta de braços abertos a exalta,
resfria a face, umedece a míngua do que era.
Seu poema, que já não se pode ler,
sendo levado com ela como aquarela.
A chuva cai e talvez o Sol pronuncie
seus raios amarelos, seus elos aquecidos,
o poema seque, enrugado, mas legível
e o poeta possa tocá-lo solidamente
como sua mais preciosa jóia.